14 junho 2007

Visita à Santa Casa da Misericórdia de Albufeira


(medalha oferecida pela Santa Casa da Misericórdia de Albufeira)

No passado dia 21 de Maio pude contar com a companhia da Maria Sousa para visitar a foi Santa Casa da Misericórdia de Albufeira, instituição seleccionada para o leilão de Novembro de 2006. A Maria Sousa tem sido uma pessoa que tem dado um grande contributo para o Projecto Mão a Mão, divulgando o projecto junto das mais diversas entidades. Tenho tido óptimas experiências em conhecer pessoalmente pessoas que têm colaborado no projecto e a Maria Sousa não foi excepção.
Julguei que seria interessante colocar o testemunho de outra pessoa acerca de mais uma visita às instituições. Eis as palavras de alguém que viveu intensamente cada um dos segundos vividos dentro da Santa Casa:

«No dia 21 de Maio, após combinado com a Sandra, rumei, por comboio, até Albufeira e daí até à Santa Casa da Misericórdia de Albufeira.
A Sandra já estava à minha espera na entrada do que me parecia ser uma "Ilha" no meio de máquinas escavadoras, entulho, terraplanagens, pó e mais máquinas (foi-nos dito, mais tarde, pela própria Provedora que a Câmara Municipal de Albufeira e outras entidades estavam a construir uma estrada em volta das instalações da Santa Casa). Percebemos a revolta da Provedora e dos vários técnicos, por este devaneio, nomeadamente porque era um terreno florestal que envolvia as instalações da Santa Casa e proporcionava agradáveis momentos, e em que foram sacrificadas algumas árvores relevantes. Mas de nada valeu o estudo solicitado à Universidade do Algarve nem outras tentativas feitas pelos responsáveis, para parar essa construção.
Sabem o que é uma ilha? Então, retirem a água do mar e coloquem estradas! Uma ilha tipicamente portuguesa: muito alcatrão e cimento.
Mas esta é uma Ilha com muitas pessoas que precisam de ajuda.
A recepção não poderia ser mais calorosa, a D. Helena (Provedora) foi uma gentil anfitriã e mostrou-nos as instalações, os utentes e as várias valências. Conhecia a todos pelo nome e contava-nos a sua história: "este fui buscá-lo a uma capoeira (onde "vivia" com galinhas, perús...), aqueles são dois irmãos, fui buscá-los no dia que a mãe (esquizofrénica) queria atirar-se, com eles, para baixo de um comboio..." E não são histórias para impressionar, não... É a realidade diária.
Estavam a fazer obras em alguns quartos, utilizando mobília usada que os hotéis lhes deram em vez de deitarem fora, aquando da renovação do seu próprio espaço. E a D. Helena dizia: "no Algarve é tudo bonito, praia, sol, hotéis e ninguém se interessa por nós, quanto menos se mostrar/falar desta realidade melhor..." E referiu que o que valia eram os estrangeiros, pois estão mais sensibilizados para estas situações. Esta Casa recebe pessoas de todo o país e apesar das dificuldades que têm, não poderiam recusá-las porque elas não teriam mais sítio nenhum para onde irem...
Após a visita, a D.Helena ofereceu três quadros, feitos pelos utentes das várias valências, para serem licitados nos próximos leilões e ainda tivemos direito a café e broas no Café Jasmim (gerido pela Santa Casa e onde decorre os cursos de formação - ligados à pastelaria, cozinha - e se tenta a auto-suficiência, com a venda dos produtos que os próprios formados e utentes da Casa fazem).

(quadros oferecidos pela instituição para futuros leilões)

A Sandra pediu-me um resumo, mas nunca consigo ser sucinta o suficiente, principalmente quando falamos de experiências que são verdadeiras lições de vida, em que fica muito para contar.
Esta Ilha, todos dias, faz verdadeiros milagres com o pouco que têm e abrem as portas para vermos, sabermos, ouvirmos o que se passa por lá. São pessoas simples, mas com uma tremenda coragem para continuar a percorrer um caminho demasiado difícil, são pessoas que recebem outras pessoas, a quem a vida, um dia, deixou de sorrir, que se perderam ou que alguém as quis perder, e tentam oferecer o que não têm. Tentam mostrar que apesar da crueldade do mundo, existem outros caminhos, um pouco mais suaves.
Sempre tive contacto, directa ou indirectamente, com instituições deste género, o que me faz estar um pouco por dentro desta realidade, mas nunca é suficiente para encararmos o que queremos esconder porque faz doer o coração e alma, e esta Casa é mais uma que necessita de ajuda e que todos nós a olhemos!
Tanto eu como a Sandra, saímos com vontade de ajudar mais (mesmo que a Sandra já tenha a seu cargo quase a totalidade do trabalho do Mão a Mão e que não é pouco!). Tivemos também a oportunidade de conversar sobre o que fazer e que novas perspectivas para o Projecto Mão a Mão.
Penso que, pouco a pouco, o Projecto poderá crescer, mas precisa de mais mãos para colaborar, para fazerem a visita às instituições, para divulgar e, quem sabe, torná-lo numa entidade legalizada sem fins lucrativos.
Foi um dia muito intenso, certamente para a Sandra também, e que fica guardado dentro de nós para sempre.
A não esquecer:
Se for ao Algarve, passe por Albufeira, leve um pequeno miminho (um brinquedo, uma pacote de fraldas, uma caixa de leite, alguma roupa, um cobertor, lápis e cadernos, livros, uma bola de futebol, entre outros) e vá visitar esta Ilha. Pelo caminho passe pelo Café Jasmim e coma um dos deliciosos bolos e/ou pão, beba algo refrescante e pense na sorte que tem por não precisar de viver numa Ilha.
Uma mão aqui, outra ali, pode fazer a diferença, e a sua, a minha, a dela, a de todos nós, juntas, farão a diferença.»

Maria Sousa




3 comentários:

Anónimo disse...

Quero deixar aqui o meu testemunho na condição de ex funcionária da Santa Casa da Misericórdia de Albufeira. Fui Educadora de Infância no Infantário Arco-Íris, durante 5 anos. Conheço, de perto, a generosidade e o enorme coração da DªHelena Serra (Provedora). Foi ela que me deu a mão quando fui para o Algarve, sem emprego. Jamais a esquecerei e estou certa que deixei a minha marca naquela valência: Quando se trabalha para uma instituição como aquela, a nossa missão diária é dar, independentemente da raça, cor ou religião.
Um beijinho para todos, especialmente para a DªHelena que estará sempre no meu coração

Educadora Mila

Anónimo disse...

Fui durante algum tempo, não muito, Assistente Social na Santa Casa da M. de Albufeira, confesso que foi dos únicos locais onde tenho trabalhado que me senti útil, cada dia que passava sentia que era importante o meu desempenho para o bem estar daqueles utentes. Senti-me "pessoa", uma pessoa que por sorte tinha trilhado um caminho diferente daqueles que eram os destinatários do meu trabalho.
À D. Helena Serra o meu bem haja, pela dedicação da sua vida em prol dos que nada têm.Não consigo nunca exprimir os sentimentos que me invadem sempre que penso ou falo nessa instituição, nos seus destinatários e no pessoal que a eles se dedica cada dia que passa.
Maria Lucília da Silva Costa

Anónimo disse...

QUERO AGRADECER COMO AMIGA DO PROF.DOUTOR PIRES DE LIMA À DRA.HELENA SERRA,A HUMANIDADE QUE TEVE PARA COM O SR.DIOGO RODRIGUES QUE INTERNOU HÁ POUCO NESSA INSTITUIÇÃO.TRATA-SE DA PESSOA MAIS IDOSA,TEM 97 ANOS E É NATURAL DE S.MARCOS DA SERRA.ENCONTRA-SE MUITO FELIZ SEGUNDO DIZ AOS FAMILIARES.NUNCA SE VIU TÃO ACARINHADO E RODEADO PELAS SUAS COMPANHEIRAS A QUEM CONTA SUAS EXPERIÊNCIAS E VIVÊNCIAS.BEM HAJA DRA.HELENA PELO SEU GESTO TÃO HUMANO.HOJE ELE AMANHÃ NÓS.